Conversa
entre os recursos expressivos.
Era uma
história de pasmar. Letras, expressões frásicas, sinais de pontuação, e frases
com “dores de cabeça” sem nenhuma razão. Quem barafustava o seu uso nos textos
eram os recursos expressivos. Todos eles queriam ficar por cima, mas nenhum
chegava a alguma conclusão.
- Estou
tão cansada!- Passo o tempo a repetir, a repetir, a repetir... Repito o que ele
diz. Repito o que não diz. Que vida monótona, a minha! - queixou-se a Repetição.
-A Adjetivação
interferiu, dando o seu parecer:
- Tu por
acaso tens alguma razão válida para te lamentares? E eu? Adjetivo, atrás de
adjetivo. Tantos adjetivos que eu emprego para caraterizar alguém ou alguma
coisa e nunca ninguém fica satisfeito, alegre ou até entusiasmado! Até chego a
pensar que os adjetivos não são valorizados, como deveriam de ser!
- Tens muita razão de queixa. Imagina eu cheia de vírgulas a separar uma
nomeação sucessiva de palavras? Que incómodo; que chatice; que aborrecido; que
sofrimento! – enumerou a Enumeração
muito chateada.
- Não te chateies amiga. – interrompeu
a Personificação . – Já viste a
minha vida? Personifico aqui, personifico ali. E nunca ninguém me agradece. Atribuo
caraterísticas próprias do ser humano ao lápis que está a sofrer por ser afiado
“a torto e a direito”.- Ponho-o a sorrir, a encarar a vida com perseverança. E
nem assim fica satisfeito. É pobre e mal
- agradecido.
- Vocês
falam muito bem. E eu? Passo a vida a fazer comparações e as palavras ficam
muito zangadas, porque nem todas as comparações lhes agradam. – defendeu-se
a Comparação. “O verbo gritar gritava tanto que parecia um desalmado!” – Não
imaginam como o verbo “gritar” ficou furioso com a minha comparação. Ainda hoje
não me fala.
A Metáfora meteu-se à conversa:
- Oh, querida
colega. Se soubesses a minha vida! As tuas palavras ou expressões comparativas
(“como”, “parece” “lembra”) fazem-me cá uma falta! Para ser metáfora omitiram-mas
e agora os alunos não me percebem muito bem. Que tristeza a minha! -
lamentou-se a Metáfora.
- Olhem
só! E eu, que sou repetida no início de uma frase ou de um verso? Até me
confundem com a repetição! – argumentou a Anáfora.
Por sua vez, a Aliteração interferiu:
- Tu,
queixas-te, querida amiga e repetes frases ou versos ou até palavras. Põe os
olhos em mim, que passo o tempo a repetir sons em palavras seguidas: “Uma vez vi o vento a voar numa ventoinha”. Que vida, a
minha! Até fico surda, de vez em quando.
-
Tantas queixas! Tantas lamúrias! E eu por aqui cheia de “enxaquecas”, por causa
dos ruídos e dos sons que perturbam o meu silêncio.
Sou uma figura de estilo que reproduz fonemas ou palavras que imitam os sons
naturais, quer sejam de objetos, de pessoas ou de animais. Faço com que aumente
a expressividade do discurso, motivo pelo qual sou muito utilizada na
literatura e nas histórias de banda desenhada. – defendeu-se a Onomatopeia.
- Trimmm,
trimmm, trimm- tocou a campainha.
O dia de
aulas tinha terminado. Já era quase escuro. Fecharam a biblioteca. E os livros
reinaram num silêncio absoluto. “Shiiiuuuuu!”
Professora:
Cândida Passos
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