segunda-feira, 16 de novembro de 2020

 

Conversa entre os recursos expressivos.

            Era uma história de pasmar. Letras, expressões frásicas, sinais de pontuação, e frases com “dores de cabeça” sem nenhuma razão. Quem barafustava o seu uso nos textos eram os recursos expressivos. Todos eles queriam ficar por cima, mas nenhum chegava a alguma conclusão.

            - Estou tão cansada!- Passo o tempo a repetir, a repetir, a repetir... Repito o que ele diz. Repito o que não diz. Que vida monótona, a minha! - queixou-se a Repetição.

             -A Adjetivação interferiu, dando o seu parecer:

            - Tu por acaso tens alguma razão válida para te lamentares? E eu? Adjetivo, atrás de adjetivo. Tantos adjetivos que eu emprego para caraterizar alguém ou alguma coisa e nunca ninguém fica satisfeito, alegre ou até entusiasmado! Até chego a pensar que os adjetivos não são valorizados, como deveriam de ser!

                   - Tens muita razão de queixa. Imagina eu cheia de vírgulas a separar uma nomeação sucessiva de palavras? Que incómodo; que chatice; que aborrecido; que sofrimento! – enumerou a Enumeração muito chateada.

             - Não te chateies amiga. – interrompeu a Personificação . – Já viste a minha vida? Personifico aqui, personifico ali. E nunca ninguém me agradece. Atribuo caraterísticas próprias do ser humano ao lápis que está a sofrer por ser afiado “a torto e a direito”.- Ponho-o a sorrir, a encarar a vida com perseverança. E nem assim fica satisfeito. É pobre e  mal - agradecido.

            - Vocês falam muito bem. E eu? Passo a vida a fazer comparações e as palavras ficam muito zangadas, porque nem todas as comparações lhes agradam. – defendeu-se a Comparação. “O verbo gritar gritava tanto que parecia um desalmado!” – Não imaginam como o verbo “gritar” ficou furioso com a minha comparação. Ainda hoje não me fala.

            A Metáfora meteu-se à conversa:

            - Oh, querida colega. Se soubesses a minha vida! As tuas palavras ou expressões comparativas (“como”, “parece” “lembra”) fazem-me cá uma falta! Para ser metáfora omitiram-mas e agora os alunos não me percebem muito bem. Que tristeza a minha! - lamentou-se a Metáfora.

            - Olhem só! E eu, que sou repetida no início de uma frase ou de um verso? Até me confundem com a repetição! – argumentou a Anáfora.

            Por sua vez, a Aliteração interferiu:

            - Tu, queixas-te, querida amiga e repetes frases ou versos ou até palavras. Põe os olhos em mim, que passo o tempo a repetir sons em palavras seguidas: “Uma vez vi o vento a voar numa ventoinha”. Que vida, a minha! Até fico surda, de vez em quando.

            - Tantas queixas! Tantas lamúrias! E eu por aqui cheia de “enxaquecas”, por causa dos ruídos e dos sons que perturbam o meu silêncio. Sou uma figura de estilo que reproduz fonemas ou palavras que imitam os sons naturais, quer sejam de objetos, de pessoas ou de animais. Faço com que aumente a expressividade do discurso, motivo pelo qual sou muito utilizada na literatura e nas histórias de banda desenhada. – defendeu-se  a Onomatopeia.

            - Trimmm, trimmm, trimm- tocou a campainha.

            O dia de aulas tinha terminado. Já era quase escuro. Fecharam a biblioteca. E os livros reinaram num silêncio absoluto. “Shiiiuuuuu!”

 

                                                                                               Professora: Cândida Passos

 

 

           

 

           

 

 

               

 

 

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